segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sociedade dos subsídios



Verdade seja dita, nos dias de hoje muitas sociedade industrializadas são as responsáveis pela predominância do parasitismo dentro das suas próprias nações. Talvez este texto vá roçar o extremismo político mas certos episódios que tenho presenciado aqui no Reino Unido têm-me feito mudar a minha opinião consideravelmente.

Sou uma forte apoiante da social-democracia e creio ser dever do Governo cuidar dos seus cidadãos desde o berço até à cova, deve zelar pelo seu bem-estar e ampará-los em caso de efemeridade ou de infortúnio. O grande exemplo disso são os países nórdicos, onde as pessoas pagam impostos exorbitantes mas isso é depois retribuido em educação e saúde gratiuta e etc. Presentemente, o Reino Unido está a enfrentar a crise do «welfare», do seu Sistema de Segurança Social, que durante anos ajudou a formar a cama dos ditos parasitas. Senão, vejamos: se temos uma criança recebemos um gordo «child benefit», que pode variar de acordo com o salário que temos (o que significa que quem não tem emprego receberá uma boa quantia), depois o Estado dá uma casa quando se tem a criança, há o subsídio de desemprego, o subsídio de saúde, o subsídio de invalidez, o subsídio de jovem mãe, bla bla bla. E nós perguntamos: «Quem paga isto?». São os cidadãos que trabalham e pagam os seus impostos. Eu fico bastante feliz comigo mesma se souber que o dinheiro dos meus impostos irá servir para pagar a pensão de um reformado que já fez o seu contributo para o seu país e agora tem o direito de descansar, ou para uma mãe solteira que precisa de comprar os livros escolares do filho, ou para um desempregado poder colocar comida na mesa, não me importo de pagar os meus impostos se for para isso, porque se estivesse nessa situação gostaria que fizessem o mesmo, contudo, recuso-me a pagar impostos que depois serão usados como subsídios para pessoas que não trabalham e não querem trabalhar, que passam o dia inteiro sentadas no sofá a ver televisão só tendo de se preocupar em todos os meses ir levantar o cheque da Segurança Social com os seus subsídios. E acreditem, aqui na Inglaterra ou em Portugal, há muita gente que vive assim.

Da primeira vez que estive na Inglaterra, em Fevereiro, conheci esta família inglesa cuja profissão da mulher era ter filhos, sim, "ter filhos". Cinco no total, um de cada pai. Por cada filho ela recebia dinheiro que lhe permitia ir de férias e a filha de 16 anos, também ela mãe, tinha um telemóvel topo de gama, algo contraditório para alguém que vive de benefícios. O que a mulher fazia o dia todo? Sentada confortavelmente na sala da sua casa oferecida pelo Estado, fumando cigarros e contando pontualmente às assistentes sociais a velha história melodramática: «oh, o meu marido abandonou-me, tenho estas crianças todas para criar» (snif snif, violinos de fundo). Sim, minha senhora, é eventualmente uma história triste, mas qual é a finalidade de trazer crianças ao mundo para puder tirar o proveito doa benefícios se trabalhar que é bom, nada? A minha mãe sempre trabalhou e criou duas filhas sozinhas e o Estado resolveu dar-lhe o subsídio mensal de «7 euros»! 7 Euros?! Nem para comprar um pacote de fraldas isso serve! E isto porque a minha mãe sempre trabalhou! Só precisaria da ajuda do Estado para comprar roupas para a filha mais nova, ou ajudar nas despesas dos livros e das propinas ou nas senhas da cantina, e eles dão 7 euros? É de fazer qualquer um se revoltar! Porquê que eu, que trabalho e pago os meus impostos só recebo 7 míseros euros enquanto há parasitas (porque não encontro outro termo para essas pessoas) a receber 100 euros por cada filho?

No passado fim de semana conheci esta mulher, uma portuguesa que viveu toda a vida em Inglaterra, fez a universidade, uma mulher inteligente que teve a má sorte de conhecer um homem que a abandonou depois de ela ter tido a segunda filha. OK, ela ia precisar da ajuda do Estado porque é a única fonte de rendimento de uma família monoparental, tal como a minha mãe. O Estado deu-lhe uma casa e ela pode-se dar ao luxo de viver há 10 anos, repito há 10 anos, sem trabalhar, recebendo todos os meses na sua caixa de correio a sua fonte de rendimento, e no entanto vejo-a com um bom carro e com um telemóvel touchpad, há algo errado aqui, não? Além do que, ela ainda me diz: «O Estado deu-nos um apartamento... é bonitinho, só que é muito apertado... tem dois quartos mas nós somos três e as miúdas tem que dormir juntas». Esperem aí... ela recebeu uma casa do Estado e ainda reclama! É muito pequeno?! Uma casa que lhe foi dada de mão beijada e ela ainda se queixa? What's wrong with these people? Muitos de nós vamos ter que trabalhar toda uma vida para conseguir comprar um apartamento e ela tem um só por ter tido duas filhas e ainda reclama (suspiro).

Em Portugal também ouvia histórias relativas ao subsídio de desemprego. Quando estamos desempregados recebemos (ou pelo menos antigamente recebiamos, porque agora com tantos subsídios o estado acabou por ficar na banca-rota) o subsídio de desemprego que equivale ao ordenado mínimo. Se eu trabalhei para uma empresa, ou uma escola ou seja lá o que for e fui despedido, será uma fonte de alívio puder contar com esse dinheiro para ajudar nas despesas da casa, mas depois também há aqueles que estão desempregado a receber o seu chequezinho, e quando chega uma carta do Fundo de Desemprego a pedir para comparecer a uma entrevista de trabalho, o que fazem é levar roupas andrajosas propositadamente para não serem selecionados e poderem voltar confortavelmente para o seu emprego de parasitas e puderem-se gabar disso nos café como se fosse uma proeza e tanto. Enquanto nos países nórdicos, segundo uma entrevista que vi no canal português SIC, estar no fundo de desemprego é considerado vergonhoso porque essas pessoas são vistas como não colaboradores para a sociedade. Eu gostava de viver num país que pensasse assim.

Não há direitos sem obrigações! Esse devia de ser o slogan. OK, essas pessoas estão a receber os subsídios, mas se o Estado fosse inteligente e, sobretudo, se a segurança social abrisse os olhos, poderiam chamar essas pessoas e dizer «meu amigo, você não está a trabalhar mas recebe o subsídio de desemprego, por isso, terá de prestar serviço comunitário: esta escola precisa de ser pintada, é preciso arranjar este jardim...» e por aí a fora. E no caso da segurança social, devia de ser mais inteligente ao ver os casos de subsídios infantis porque há muitos pais que acabam por ter os filhos pelos motivos errados, e há muitos casos desses por aqui, crianças que são torturadas e espancadas pelos próprios progenitores.

Quando houve aquela polémica toda na Internet por conta da discriminação com os nordestinos, uma das frases mais lidas era «esses nordestinos que vivem às custas do bolsa família». É certo que o Nordeste pode não ser a melhor zona em termos de agricultura, mas ainda assim tem muita coisa para ser feita e cabe ao Governo garantir que as pessoas tenha formação necessária para ocupar postos de trabalho que todo o mundo sabe estar em falta, o que é muito mais útil do que dar subsídios. Não é justo que uns trabalhem enquanto outros fiquem há sombra da bananeira.




quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Racismo é burrice!


Já dizia Gabriel, o génio pensador, «racismo é burrice». A eleição de Dilma Rousseff desencadeou uma enxurrada de comentários preconceitosos de cidadãos do sul/sudeste que culpabilizaram os brasileiros do norte/nordeste pela vitória da petista (no entanto, mesmo sem os Estados do Norte/Nordeste, a vitória de Dilma estaria mais que garantida). Aparentemente todo este alarido começou com um comentário no Twitter de Mayara Petruso, uma paulista estudante de Direito, que postou o seguinte: «Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado» e foi seguida fielmente por outros milhares de diversificados comentários que colocam à tona o já conhecido preconceito contra os nordestinos e deixam indignado quem quer que tenha estomâgo para ler os tweets escritos, exemplos perfeitos da magnitude que a ignorância pode alcançar. Eu acho que este assunto não deve ser deixado de lado e deve ser trabalhado, e é a razão pela qual, escrevo agora este texto, colocando de lado ideologias políticas (sendo eu uma apoiante da esquerda [embora tivesse preferido ver a Marina no poder]) e falando como a patriota que sou e emocionando-me de cada vez que oiço a brilhante composição de «Aquarela do Brasil», de Ary Barroso.

Ontem recebi um email da autoria de José Barbosa Júnior (que desconheço quem seja mas que gostaria de parebenizar) que dizia o seguinte (e citarei somente excertos significativos):

"(...) fiquei a pensar nas verdades ditas por esses jovens, tão emocionados em sua declaração contra os nordestinos . Eles tem razão! Os nordestinos devem ficar quietos. Cale a boca, povo do Nordeste. Que coisas boas vocês têm para oferecer ao resto do país? Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então o cearense José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz? Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello (...) e a Bahia, em seus encantos, nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo (acrescentaria o pernambucano Paulo Freire, pedagogo e filósofo e pedra basilar do meu curso universitário)? Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito deputado federal mais votado pelos (pasmem) paulistas! E já que está na moda o cinema brasileiro, poderia falar ainda de atores como o cearense José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta (...) e ainda os bahianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo "carioca" Capitão Nascimento de Tropa de Elite. Música? Não, vocês não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura... ou pensam que teremos que aceitar vocês pela simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine (eu acrescentaria Raul Seixas, o pai do Rock Nacional!)
(...) Ah, Nordestinos, além de tudo isso vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros à força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? (...) Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender connosco, povo civilizado do sul e do sudeste do Brasil. Nós sim temos coisas boas a lhes ensinar. Por que não aprendem conosco os batidões do «funk carioca»? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até ao chão enquanto são carinhosamente chamadas de "cachorras. Além disso, deveriam aprender também muito da estética musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê! (...) Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa é o quanto esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. não porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ser atriz mirim ou cantora e ter toda a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa é que vão encher o bolso e nunca precisarão do Bolsa-Família, daí é facil criticar quem precisa!

Minha mensagem é a seguinte: Calem a boca, nordestinos! Calem a boca, porque vocês não precisam de se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tiraram tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol. Calem a boca e deixem quem não tem nada que dizer jogar suas cartas ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso de tantas cores, sotaques, relegiões e gentes. Calem a boca porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto (...). Que o Deus de todos os povos, as raças, tribos e nações os abençoe, queridos irmãos nordestinos!».

São sem dúvida belas palavras que deviam servir para calar a boca de ignorantes que, alienados por uma media que mostra um Brasil que se resume aos estúdios da Globo e ao eixo São Paulo-Rio de Janeiro, só sabem defecar pela boca uma torrente de ideias pré-concebidas e sem qualquer tipo de fundamento. Aliás, passando uma vista de olhos pelos tweets coletados pelo site «Diga Não à Xenofobia» dá claramente para traçar o perfil dos seus autores, jovens de classe média alta, fiéis consumidores de Malhação que que consideram Cine e Restart como uma das oitavas maravilhas do mundo. Enfim!

O Brasil é um mundo! À semelhança dos Estados Unidos, temos proporções continentais e englobamos uma diversidade cultural estontenante. É díficil tentar ver semelhanças entre Nova Iorque e o Texas, ou a Florida e a Califórnia e o Michigan ou o Alaska, o mesmo é válido para o Brasil. O Sul parece uma amostra de uma Alemanha perdida no tempo, totalmente divergente do cenário nordestino ou mesmo do Norte. O importante é o que cada um desses estados que englobam a nossa Pátria Amada contribuiu para a sua história. O Sul nos deu João Goulart, Luís Carlos Prestes e até mesmo Getúlio Vargas, na música nos presentou com as belíssimas Elis Regina e Adriana Calcanhoto e na dramaturgia nacional com Glória Menezes, entre outras figuras. Do sudeste vieram os meus ídolos Amácio Mazzaropi (considerado o Charlie Chaplin brasileiro), Adoniran Barbosa, Cartola, Noel Rosa, Tom Jobim, Chico Buarque, Heitor Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga e Vinicius de Moraes, sem contar com importantes figuras da história nacional como Juscelino Kubitchek e Alberto Santos Dumont e os aclamados modernistas Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Tarsilla do Amaral, que deram à corrente artística moderna um rosto tropical brasileiro. Na região Centro-Oeste falemos de Jânio Quadros, Wolf Maya ou Patrícia Pilar. Do nordeste veio Deodoro da Fonseca, proclamador da República e primeiro presidente brasileiro, Assis Chateubriand, e grandes músicos como Simone, Gal Costa e os meus muito queridos Gilberto Gil e Djavan. E a região Norte, muitas vezes também esquecida e sarcasticamente tratada como a terra dos índios (como se ser índio ou descendente fosse um facto vergonhoso, quando na verdade são os indigenas aqueles que mais direito têm a este solo, pois são eles os habitantes naturais e senhores por direito desta terra à qual chamamos Brasil) de onde provêm Inglês de Sousa e José Veríssimo, fundadores da Academia Brasileira de Letras, Samuel Benchimol e Fafá de Bélem. Entre outros, cada região contribuiu um pouco para esse mosaico cultural que é o Brasil. E ao invés de ficarmos procurando o que nos torna diferentes, seja porque os do sul tem o olho mais claro porque são descendentes de alemães ou italianos e dos norte e nordeste são índios ou negros, seja porque no sul o clima é mais propício à agricultura do que no nordeste, seja porque motivo for, deviamos de estar mais preocupados com aquilo que nos torna iguais e nos faz ser tão bem agraciados mundo afora. Perguntando a muita gente como definiria um brasileiro, talvez dissessem: «são um povo alegre, optimista apesar das contrariedades e com uma grande criatividade», provavelmente não estariam focalizados em dizer «espere, os do sul/sudeste são assim ... e os do norte/nordeste são assim ...». Se conseguirmos deixar de lado esses preconceitos idiotas e sem noção, poderemos trabalhar em conjunto para uma coisa que todos almejamos: um bom nível de vida e o desenvolvimento do nosso país, e isso só será possível se todo o Brasil trabalhar em conjunto, não se toda a atenção se centralizar somente na região sul e sudeste. É verdade comprovada que o Brasil está mudando, está aparecendo na media internacional pelas razões certas que não sejam os bandidos que entraram no hotel e mataram um monte de gringos, a mãe que trocou o filho por uma saca de arroz ou outras notícias... o Brasil de hoje, certamente não é o mesmo que a minha mãe deixou há 20 anos atrás, é um Brasil para o qual eu me sinto motivada a voltar. É um Brasil que deve aprender a usar de forma inteligente uma das maiores riquezas que tem: o seu povo!

E finalizo este texto com uma lágrima no canto do olho (que patriota idiota!), simplesmente acredito no meu país e dizem que o sonho comanda a vida e convido-vos a ouvir a música «Norte e Nordeste» do rapper cearense Rapadura, meu amigo e "irmão" e que eu vejo orgulhosamente brilhar no cenário musical nacional.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Upgrade

Sim, estou viva! Estive afastada da blogsfera durante um longo período mas aqui regresso, talvez porque o meu cérebro já andava a precisar de regorjitar certos pensamentos que pululam pela minha mente. Depois de cinco meses a residir em Inglaterra, as coisas finalmente começam a caminhar sobre carris, ainda que à velocidade da primeira máquina a vapor de James Watt.

Durante ester período estive constantemente embrenhada em localizar outras pessoas na mesma situação que eu, au-pairs no Surrey, a fim de poder partilhar algumas experiências e desabafos e ter companhia durante as horas de almoço. Algumas surpresas foram bastante agradáveis, outras nem tanto, mas é bom poder conversar com pessoas de outros países e constatar que, no fundo, estamos todos no mesmo barco. Pode-se dizer que, pelo menos, já tenho um grupinho fixo de pessoas com quem afogar-me em sumptuosos capuchinos enquanto reclamamos das nossas hostfamilies.


Além disso, em Outubro fiz o meu curso de preparação para o exame IELTS, que me irá capacitar para concorrer a qualquer universidade na Inglaterra a fim de prosseguir nos meus estudos, foi mais uma prova de que consigo falar e compreender inglês de forma fluente. As surpresas foram igualmente agradáveis e, além de ter passado 4 sessões de 3 horas com uma turma maioritariamente asiática, tive a oportunidade de observar de perto o ambiente académico britânico. Tive resultado de 6.5 no exame (sendo a nota mais alta 9).



Como é óbvio, também aproveitei para passear um pouco pela Inglaterra, conhecendo os seus museus e a sua história, procurando conhecer um pouco da sua cultura.



E claro, no fim de semana passado tive a oportunidade de ver a minha banda favorita em show. Tirando as saudades de poder ter a minha própria casa e da família e amigos, a vida não podia correr melhor.


Como é óbvio, também tenho acompanhado de perto a situação no meu país (Brasil), quer seja pelas notícias sensacinalista da Record, quer pelos períodicos online. Estou extremamente satisfeita com a vitória da Dilma e penso que, se ela continuar os trabalhos do Lula, esse país anda pra frente. Ao mesmo tempo, estou profundamente triste com a torrente de comentários preconceitosos contra os brasileiros do norte e nordeste por conta da vitória da petista, que colocam à tona uma face vergonhosa do povo brasileiro (mas que eu devo dizer, é um problema semelhante em todo o lado do mundo: para os lisboetas o resto de Portugal ficou parando no tempo; há uma visão semelhante à dos nordestinos aqui na inglaterra com os habitantes do norte do Reino Unido), mas isso ficará para outro post. Prometo que agora voltei para ficar =).

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Meu lugar...


Depois de dois meses de uma vida de exlcusão social que rondava uma existência eremita finalmente fui até Portugal passar duas noites, um tempo demasiado curto quando penso no valor exorbitante da passagem. De qualquer maneira, e colocando o dinheiro de lado, creio ter sido uma boa experiência voltar a Portugal rever os amigos e a família e libertar-me das teias de aranha que me prendiam a língua (acho que em toda a minha vida nunca fui tão eloquente como nestes três dias). Contudo, não consegui deixar de sentir uma certa tristeza e confusão interna.

Após dois meses a viver numa casa com uma rotina totalmente divergente da minha, achei estranho regressar à minha antiga residência onde a rotina não é tão demarcada e onde, por vezes, a anarquia impera. Foi estranho ver-me, subitamente, com a oportunidade de poder fazer o que eu queria sem ter de estar constantemente a olhar para o relógio para saber o que deveria fazer a seguir. Depois desta experiência toda como au-pair acabar, quero saber como me libertarei da sombra deste regime quase militar ao qual estou encarcerada.

Em segundo lugar, não consegui deixar de me sentir estranha ao entrar no meu quarto e ver as coisas que havia deixado para trás. Não consegui parar de pensar que não me sentia à vontade num lugar que sempre fora o meu refúgio. E agora, regressando a Inglaterra e olhando para o quarto que tenho aqui, não consigo deixar de sentir a estranhez de saber que aqui também não pertenço e de sentir a falta de tudo o que deixei para trás.

Esta viagem a Portugal foi deveras alegre, mas encheu-me de dúvidas quanto ao lugar onde pertenço. É bastante difícil sentir-me como uma peça de puzzle inadequada aos dois lugares, uma nómada sem rumo, procurando o lugar onde se sente melhor. No fim dou por mim a perguntar qual é o meu lugar... É quem disse que crescer é fácil?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Persepolis, o livro que mudou a minha visão


O The Guardian lançou uma lista de livros para ler antes de morrer, a qual eu posso afirmar, talvez de forma algo petulante, que já tive oportunidade de contemplar algum desses exemplares. Huxley, Camus, Flaubert, Orwell e afins, tudo autores que tornam a literatura numa arte por excelência, mas eu talvez acrescentaria a essa lista um livro que me tem feito pensar bastante nos últimos tempos: Persépolis, de Marjane Satrapi. Escrito no estilo banda desenhada que eu tanto adoro desde os quadradinhos de infância da Turma da Mônica e Asterix, Marjane mescla o humor com a crítica social, narrando a história dos últimos 40 anos do seu país de origem, o Irão (Irã em português do Brasil) e mostrando um país profundamente diferente das notícias com que somos constantemente bombardeados, notícias que pintam um povo terrorista e fundamentalista. É engraçado como me ajudou a clarear muitas coisas dentro da minha cabeça:

  • O preço do progresso: É impossível estar em Londres ou em qualquer outra cidade britânica e não ficar fascinada com a quantidade de coisas que existe à disposição da população. Falo de meios de transporte de ponta, ofertas de lazer intermináveis, até lavatórios de casa de banho que automaticamente deitam sabão nas nossas mãos e as secam após 10 segundos de lavagem. Ficamos verdadeiramente impressionados! Sim, isto é o primeiro mundo! Quem me dera que Portugal ou até mesmo o Brasil fossem assim. Bom, eu acho que é fácil para o Reino Unido ser um país tão desenvolvido quando se tem um passado colonialista tão forte, quando se interfere em assuntos internacionais de forma que isso possa ser favorável para ele. Sejamos honestos, toda a gente quer o melhor para si, mas teremos que fazer os outros sofrer para alcançar isso? Os fins justificam os meios, diria Maquiavel. Em Persepólis vemos os ingleses intervindo na política do Irão de forma a colocar no poder alguém que possa dar especial atenção aos seus interesses políticos, e tudo porquê: porque o Irão tem petróleo. Satrapi chega mesmo a dizer no livro: ninguém fez nada quando o Afeganistão foi invadido porque é um país pobre. Sim, na Inglaterra temos lavatórios automáticos que foram conseguidos através do sofrimento de outrem. Algures no Irão, ou até mesmo em outro país, alguém deve estar passando necessidades para que no ocidente nós possamos lavar as nossas mãos em tempo recorde.

  • Don’t judge me, dude!: Que atire a primeira pedra quem nunca teceu, mesmo que seja um inofensivo, comentário xenófobo em relação a qualquer nacionalidade. Lendo o Persépolis conhecemos a história de inúmeros iranianos que decidem sair do seu país por não aguentarem mais um regime opressor que os condena até pelas mais vãs actividades de lazer como xadrez (?!). Muitos foram para os EUA ou para a Europa, onde, acostumados à boa vida do seu país, onde desfrutavam de trabalhos bem remunerados e estatuto social, são tratados com indeferença, vivendo na marginalidade ou na precariedade de empregos de baixo rendimento. Sou imigrante agora e começo a compreender muitas coisas que antes não entendia e digo-vos, não é fácil estar num país que não é o vosso, agora imaginem que se mataram a estudar e respondiam pelo título de Doutor no vosso país e dão por vós a limpar sanitas noutro lado. Lembram-se das vezes que disseram: «Este sítio está infestado de romenos» … mas o que sabemos do passado dessas pessoas?! Sabemos lá se não foram torturados pelo Ceausescu, sabemos lá senão eram uma família de classe média alta que teve que fugir por alguma razão? Já pensaram o quão pouco sabemos das pessoas com quem nos cruzamos na rua, não sabemos nada do seu passado, do seu presente ou do seu futuro, somente nos resignamos à nossa ignorância para fazer os nossos injustos julgamentos…

  • One must educate oneself: O que eu mais gostei em todo o livro foi a franqueza com que a autora contou a sua própria história, mostrando-a como uma pessoa real, com as qualidades e defeitos humanos que vão para além da irrealidade dos heróis vampíricos de hoje em dia. Identifiquei-me bastante com ela no período em que ela, aos 14 anos foi enviada pelos pais para a Áustria, a fim de estudar e ficar longe do Irão durante o período da guerra com o Iraque. Muitas das coisas que ela passou naquela altura, e eu nem consigo imaginar-me a passar por isso aos 14 anos, estou a passar agora e isso trouxe-me algum conforto… no final tudo vai acabar bem. Acho que ela seguiu um percurso de vida que eu procuro para mim e agora, depois da graduação universitária e sem saber ao certo o que fazer da minha vida, cheguei a conclusão que talvez não queira fazer do trabalho com crianças uma coisa para o resto da vida. Para além de ser desgastante a nível nervoso, não quero acabar por ficar sem paciência para quando for a vez de ter os meus Gustavo, Alice (ou Letícia) e Albert (nomes pomposos, hein?). Ando pensando seriamente nas áreas de desenvolvimento comunitário e sustentabilidade, talvez por englobar temas que eu tanto gosto como a economia, globalização. Além de termos que nos educar, também temos que vir ao mundo para fazer alguma diferença, mesmo que seja a mais pequena possível.

domingo, 8 de agosto de 2010

O Pecado de Darwin


Hoje eu queria falar da minha experiência em Itália, queria falar de como adorei os italianos e me senti como se estivesse no Brasil, mas resolvi deixar isso para outra altura. Neste momento estou com vontade de escrever sobre outra coisa. Hoje estou com vontade de escrever sobre Darwin e a sua teoria da selecção natural.

A teoria da evolução das espécie de Darwin foi muito criticada na altura que surgiu, talvez porque tirava o protagonismo a Deus como criador da natureza e de tudo que a compõe, mas penso que dentro dessa teoria, aquela que deu mais do que falar e que foi, posteriormente, levada ao darwinismo social (para justificar as atrocidades do colonialismo e do nazismo) foi a da selecção natural: «apenas os mais fortes sobrevivem e a natureza encarregas-se de eliminar os fracos». Vemos constantemente isso acontecendo no mundo animal, naqueles documentários do National Geographic em que a manada de zebras foge em conjunto dos leões mas a mais fraca será sempre a presa... lembro-me de ficar com pena da pobre zebra, de querer saltar para dentro da televisão, de querer intervir, mas é assim que a natureza funciona - o leão precisa de se alimentar, certo? Pensando bem, talvez até fariamos o mesmo papel da natureza: imaginem que têm duas vacas mas so têm comida para uma, qual preferiam alimentar? Aquela que dá mais leite, certo? E quando uma gata tem uma ninhada e mata o mais fraco? Talvez o faça porque sabe que, à partida, ele não vai sobreviver? O que me lembra do filme «A escolha de Sophia?», em que ela, num campo de concentração, viu-se obrigada a escolher entre um dos seus dois filhos para o salvar e ela optou pelo forte, pois sabia que ele sobreviveria, deixando para trás o já enfermo e que estaria condenando à morte.

Mesmo que pratiquemos incoscientemente a teoria da selecção natural, a questão reside: porque odiamos tanto a teoria de Darwin? Eu penso que seja porque ela é uma teoria que vai contra a nossa noção de solidariedade. Afinal, os fracos não tem culpa de terem nascido fracos. Porque tem que padecer? Porque não tem direito à sua vez? Entra então novamente a ciência. Porque só o mais fortes poderão sobreviver para se puderem reproduzir e perpetuar a sua genética... como seria o mundo senão existisse a selecção natural? Estaria sobrelotado! Muita gente diz que as catástrofes naturais, as doenças e as guerras são uma selecção natural (embora a guerra seja completamente artificial), uma forma de seleccionar aqueles que estarão aptos a sobreviver e de impedir que haja carência de alimentos para todos, caso haja sobrelotação na terra. Eu tento entender isso, mas não deixo de sentir um nó na garganta quando vejo na televisão pessoas sendo arrastadas por tsunamis, lava consumindo cidades inteiras, pessoas definhando de fome, crianças padecendo de doenças incuráveis, bombas fazendo explodir edifícios... isso apela ao meu lado emocional e leva-me a dizer a mim mesma: «Deus, onde estás nessa altura? Porque estas pessoas? Qual foi o pecado delas? O de nascerem fracas?». Não consigo arranjar resposta para essas perguntas, mas talvez tire algum consolo das palavras que li na bíblia, no envagelho segundo Lucas:

"Bem aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir! (...). Mas ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas".

São bonitas palavras, ainda que, provavelmente, tenham servido para fazer uma lavagem cerebral a muitos pobres coitados.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Entre o dever e o prazer

Já estou na Inglaterra há quase um mês e a vontade de escrever tem sido quase nula, quiçá por as ideias ainda não estarem devidamente ordenadas dentro da minha cabeça de maneira a contruir um texto coerente.

Da maneira como as coisas aconteceram desde que estive em Inglaterra pela última vez, foi tão repentino que me deixou deveras extasiada. Eu tinha regressado a Portugal com a minha moral completamente embaixo, semelhante à da Alemanha perante o Tratado de Versalhes e, em menos de um mês, recebo esta proposta para ser au-pair na Inglaterra, tomando conta de três crianças e com a possibilidade de fazer a minha pós-graduação, sendo esta custeada pelos meus patrões. Quando a minha patroa me disse que ia oferecer-me a vaga, não coube em mim de felicidade... Será que foi destino? Ou Deus quis que as coisas corressem mal da primeira vez para que eu tivesse esta segunda oportunidade? É daquelas respostas que deixamos ao critério das ciências ocultas.

O único problema é que, há medida que os dias se iam arrastando até ao dia da minha partida (24 de Junho), fui-me acostumando à minha antiga vida em Portugal: a equipa de trabalho coesa,, a vida social extremamente preenchida, concertos e festivais e um ou outro rendez-vous para me fazer deliciar com os prazes desses affairs espontâneos. Pela primeira vez pude dizer que estava plenamente feliz e a minha última semana em Portugal pude saborar aquela afamada hipérbole de «viver a vida num só dia»... yeah, I was unstopable. Mas então a realidade sobre a forma da minha mãe lembrou-me de que estava na hora de assumir as responsabilidades e a resignação tomou contada de mim. Duas horas antes do voo e eu ainda estava fazendo as malas (talvez porque eu, nop fundo, não queria ter de fechar aquele zipper). Ainda não conseguia acreditar que eu ia sair de Portugal justamente na altura em que a verdadeira diversão ia começar... em pleno Verão, onde as festas, as bebedeiras, as soirées, os convívios e a luxúria são o prato do dia... It was time to say goodbye.

E aqui estoui eu, desde então, confinada a Guildford, no Surrey, numa casa com 7 quartos, vivendo o countrydream que os meus patrões tanto almejam. A primeira semana fpi impossível de passar sem enterrar a cabeça na almofada e chorar desalmadamente qual uma carpideira. Foi meio difícil adaptar-me a esta zona, conhecida or ser aquela em que moram os grandes milionários, tendo de estar longe daqueles que amo e sem ter um amigo com quem sair, mas tive quie engolir isso tudo... é o meu dever...

Não consigo pensar em pessoas mais bondosas que os meus patrões... pelo menos ela é o protótipo da self-madewoman: filha de imigrantes portugueses, começou a trabalhar cedo, fazia part-times para comprar o apartamento que adquiriu em Londres aos 27 anos de idade e é muito conhecida no ramo financeiro da City. São aquelas pessoas ricas que obtiveram a sua fortuna com esforço e sabem dar valor àqueles que trabalham e que querem algo melhor para si. Eles preocupam-se com o meu bem-estar e querem dar-me a oportunidade de fazer algo melhor pela minha vida, parece até coisa de filme, o único problema é que vou ter que renunciar durante algum tempo a algo que eu preservo muito: a minha liberdade. Porque mesmo os meus patrões sendo pessoas excepcionais eu tenho igualmente de me lembrar que trabalho para eles e servir os outros não é propriamente uma tarefa fácil, principalmente quando a pessoa é totalmente o oposto de ti e insiste em que as coisas devem ser feitas do jeito dela, o que também não ajuda muito ao facto de vivermos todos nesta espaçosa casa onde parece que estou constantemente a trabalhar, mesmo quando o expediente terminou ou de só falar quando interpelada porque não tenho mais ninguém com quem conversar loquazmente como antes fazia... às vezes eu penso que a única altura em que consigo ser eu mesma é quando estou no meu quarto, sozinha dentro da minha própria cabeça, ainda que oiça o libeiro burburinho de uma voz repreensiva e impossível de agradar... é quase como ter um daqueles austeros professores da época vitoriana a bater-nos constantemente nas mãos com uma vara sempre que damos a resposta errada... eu simplesmente tenho saudades da altura em que eu podia viver a minha vida da forma anárquica que sempre foi sem estar enclausurada dentro de uma existência comandada por exigentes rotinas onde todos os dias parecem iguais... serei eu uma hippie?

E depois tem as vozes sábias que me dizem que este sacrifício que estou fazendo será recompensado com o dinheiro que irei colocar de lado durante o tempo em que aqui estou... com a oportunidade de estudar e com a oportunidade de conhecer coisas novas, ainda que os dias se tenham passado de forma irritantemente mundana. Tenho que fazer um total submissão do prazer ao dever porque agora é o meu futuro que está em jogo., ainda que, aos 21 anos as minhas hormonas reclamem por festas onde terei histórias para contar aos meus netos, afinal só se tem 21 anos uma vez na vida... bom, para ter netos terei que me aguentar neste trabalho ou caso contrário não terei dinheiro nem para me dar ao luxo de ter filhos. É altura de pensar no futuro e isso implica fazer sacrifícios, uma total devoção ao dever que me faz descobrir a razão pela qual a maior parte das familias reais não passam de um bando de frustados... e todas as vezes que eu encosto a cabeça na minha almofada antes de dormir, digo para mim mesma: «I will be good»